As botas
Calvino livrou-se de suas botas . Há muito tempo que elas apertavam seus pés . Sentiu a liberdade na ponta de seu dedão . Ele olhou para o céu “ azulcrinando” sua visão . Seu peito apertado pedia por Deus : “Senhor, me ajude a viver sem minhas botas . Elas me apertavam, mas eu gostava tanto delas” . Ele levantou-se sentiu pela primeira vez o contato com o chão terroso, areia... pensou, com a palma de seus pés . Era difícil manter-se equilibrado. Ele estava só, solidão. A areia queimava-lhe a sola dos pés. Era difícil manter-se equilibrado. Ao mesmo tempo, ele sentia um novo prazer com os grãos penetrando por entre seus dedos . Ele conseguiu caminhar, sentiu a brisa fresca soprar contra o seu rosto. O céu azul, a planície árida, árida, a vida árida . Seus pés não estavam sós, tinham um ao outro, mas ele estava . Lembrou-se de sua infância. Do que seu pai dizia : “ Calvino, nunca saia sem calçar suas botas” . Ele nunca saia, nunca . Mas, aquilo era bom, era real, ele enterrava os dedos na areia com prazer . Precisava a aprender a caminhar sem suas botas . Deveria livrar-se de suas roupas, sentir o vento tocar sua pele . Seu pai falando : “Calvino! Suas botas!” Agora ele não precisava mais delas . Queira tocar a terra . Aquilo era bom, era como fazer amor com o mundo . O sol queimava o seu rosto . Deveria ter trazido um tubo de protetor solar . A vida batia em sua cara . Dizia para ele caminhar sem as botas : “Caminhe, se tiver coragem” . Ele dava um passo após outro, mas não tinha pressa . Não precisava chegar . Só tinha que partir .
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