Tuesday, February 21, 2006

Pandorgas

Na minha infância, talvez, não tenha soltado todas as pandorgas que gostaria de ter soltado, que tinha direito ou que achava que merecia soltar, ou seja, acho que soltei poucas. Mas as que soltei foram com toda a emoção que podia sentir, como um pedaço de mim que voava para o alto, livre e solitário . Só escutava o barulho do vento que impelia meu desejo de ser feliz.... Eu parecia me transportar lá pra cima com ela , como aqueles bilhetinhos que gente colocava na corda para encontrar ela, a pandorga, solitária e soberana, no céu azul .O que diziam aqueles bilhetes ? Não sei, talvez a história do futuro de um menino que iria crescer um dia e que se tornaria um homem que sonharia com as pandorgas que soltou na infância . Era um momento em que consegui tirar os pés do chão : correr com a pandorga num terreno baldio, largá-la ao vento e vê-la subir ao céu . Era um instante mágico, com olhos vidrados no céu, tudo se desprende do chão, do mundo terreno . O que importa é aquele ponto colorido na imensidão, contrastando com o azul celeste ...Essa parece ser a grande mística de soltar pandorgas, você tira os olhos do mundo em que vive, de seus problemas, da sua vida pequena e se volta para algo muito maior, algo para que, muita vezes, não dá a mínima atenção na sua vida cotidiana: a imensidão do universo, a certeza de que a vida é muito maior que uma cidade pequena, uma vila ou uma favela . Soltar pandorga nos abria os olhos para algo muito maior, algo que muitas vezes esquecemos quando adultos, para a possibilidade inocente e infantil de sonhar...

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